A menina tem onde repousar, tem as flores que sempre sonhou e pode dar continuidade ao seu final feliz. Contudo, há uma enorme rocha mista de indecisão, medos e auto repressão nas costas da menina, como se ela fosse o Atlas e precisasse segurar o mundo todo sobre si. Frequentemente ela tenta prosseguir, erguendo a cabeça e deixando a chuva molhar os seus olhos de vidro, porém toda a luta parece ser inútil, como se estivesse forçadamente contida em um labirinto e desejasse voar até o sol, mas tivesse medo de acabar como Ícaro acabou. Tudo parece ser feito para sustentar o não pensar, o não agir, o não ser.
A menina não precisa de mais uma flor e nem mesmo precisa de algo novo que a tire de onde está. O círculo vicioso de erros e desistências é algo que somente ela pode controlar, deixando de procurar o conforto depois de alguma frustração e decidindo buscar voar sempre mais alto, ir sempre com mais força, e sendo, sem receio algum, aquilo que ela realmente é. Tocar o sol as vezes pode ser melhor do que ficar no chão. Olhar para a terra através do céu, estando mergulhada nas nuvens, as vezes pode ser bom, ao contrário do que dizia Aristófanes.
Olhando para si, no mesmo velho espelho empoeirado, a menina tenta, constantemente, recuperar as suas forças e ser fiel aos seus princípios, buscando entender quem ela é, buscando se possuir, para quem sabe, poder finalmente abandonar a angustia por algo maior que ela sente em seu peito e então realmente ser pessoa, se dispor.
Somos apenas duas almas perdidas, ano após ano percorrendo este mesmo velho chão.