5 de setembro de 2024

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Aos portadores de olhos melancólicos e perdidos

Eme identifico nos teus olhos, na tua busca incessante por algum ponto fixo que te traga um pouco de paz e esperança. Eu me identifico no teu andar que, embora pareça leve e despreocupado, deixa descoberto, somente àqueles que conseguem ler nas entrelinhas, o quão solitário é o teu caminhar.  

Eu entendo a tua busca e sei que, na verdade, ela nunca foi por perfeição ou por um ideal romântico exageradamente montado ao longo dos anos em que essa busca existiu. E sim, sei que ela existiu, por mais que negasses, utilizando para isso as mais diferentes distrações e interrupções naquilo que talvez tivesse sido o ciclo natural da vida.

Eu sei que o teu sorriso é sincero quando observas a felicidade e a segurança daqueles casais de mãos dadas naquele belíssimo gramado verde, entretanto também compreendo a dor que sentes, pois eu compartilhei desse mesmo misto de empatia pela alegria do próximo e da dor de não ser eu também andando de mãos dadas.

Quando o teu dia termina e encaras as luzes noturnas da cidade em uma cansativa volta para casa, eu entendo a tua pequeníssima esperança de que algo inusitado ainda aconteça, de que alguma peça seja movida para um lugar diferente e todas as partes quebradas da vida voltem a ter algum sentido, se é que algum dia realmente tiveram esse sentido.

Também senti a dor de cada amanhecer. Essa mesma dor de estar obrigatoriamente continuando cada uma das atribuições diárias e, no meio disso, entender que nenhuma delas importa, porque o que é importante nunca foi físico, e tu sempre soubeste disso, já que repetidamente reforçaste esse fato ao tentar estar próximo não de lugares e itens suntuosos, mas dos incontáveis tons de verde das plantas, do azul do céu e da vida dos animais. Eu senti o vazio que tu sentes em não conseguir convencer ninguém daquilo que realmente é belo e também deixei rolar pelo meu rosto as mesmas lágrimas quentes e inconvenientes que acabaram por denunciar mais de uma vez a minha e a tua débil gana pela não existência.

Apenas continue. Corra mais riscos se te for confortável. Fique vivo e mantenha o teu coração bom e honesto com todos, mesmo que não exista nenhuma reciprocidade nisso no momento atual. Não tenhas medo de ser quem és até nos dias mais solitários, pois a certeza de que existe amor no mundo é o próprio amor que tu carregas, assim como o amor que observas diariamente. Sim, ele é real, eu garanto que é real, porque agora eu vivo o inacreditável.

O amor dissipará todo o mal. Por amor viveria novamente cada instante de tudo o que me trouxe até aqui, passaria novamente por todas as tempestades e caminhos lamacentos, me afogaria em todas as imensas enxurradas e me colocaria novamente em pé, já fraca, para ser esmagada pelo caos. No final de tudo, depois das trevas, haverá uma grande luz.

Eu e ele estamos em um campo infinito de margaridas, em que a quantidade de cada pétala igualmente infinita não é capaz de representar nem um terço do amor que sinto. Todas as peças realmente se encaixam no final desse quebra-cabeça dificílimo e, por fim, há a certeza de que nada nunca foi tão real e precioso em todo o universo.

Eu sei que é ele. Ele sabe que sou eu.

Ouso dizer que Platão estava certo em afirmar que as almas gêmeas, quando se encontram realmente, acabam por aumentar suas forças por estarem juntas, podendo até mesmo escalar o céu.

Olhos melancólicos, continuem a procurar a luz e, quando a encontrarem, lembrem-se do passado tanto para serem gratos quanto para aprenderem com ele.

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15 de março de 2024

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Caos e borboletas

    Feridas lambidas, cicatrizes expostas, lama seca agora já transformada em pó, borboletas saindo novamente de seus casulos, muita água, muito querer, nenhuma flor. 
    Como caminhar quando existem diversos caminhos, mas nenhuma noção de direção? Como fingir não ter medo quando a realidade bate na porta anunciando que já não há o mesmo tempo e que as coisas não irão acontecer da mesma maneira? A menina continua, mas não possui nenhuma bússola e são poucos os dias em que é possível enxergar o céu. Durante a noite, sempre existe a possibilidade de uma grande enxurrada, ocasionada por motivos diferentes dos iniciais, que ninguém conhece porque ela prefere a ilusão e a viciante excitação do engano ao alinhamento de quereres. 
    De certa forma, é bastante provável que o caos tenha se tornado um amigo, à moda daquilo que espera-se de um amigo de longa data, que nos conhece só de olhar e que não precisamos nos alongar em explicações complexas para sermos entendidos, bastando um café e algumas músicas em um sábado qualquer para que todo o sentimento se exponha sem grandes esforços. 
    A menina aperta a mão do caos em sinal de cumprimento e o convida para entrar e conversar, misturando todos os sabores e sensações, sentindo com uma intensidade diferente e estranhamente maior e mais sufocante todas as vontades e todos os delírios, todos os medos, os pensamentos intrusivos, as paixões sem cabimento e as emoções sufocadas.
    A menina que, ironicamente, sempre preferiu um mundo claro, agora apega-se ao caos. Ele, como moeda de troca, afirma ser o seu amigo mais profundo e mais antigo, tentando convencer a menina a apostar na euforia do que é platônico, a acreditar que está tudo bem vincular com um grande emaranhado de linhas velhas o passado e o futuro e a apostar tudo o que se é na vantagem da loucura. Tratando-se de alguém louco, às vezes é preferível não possuir algumas experiências. É tarde, agora ela já voou muito perto do sol.
    Para a menina, sentir o caos é como sentir um tecido muito longo nos enrolando devagarinho, começando pelos pés. O tecido é áspero, quente e de um vermelho muito vivo, de onde não é possível se desvencilhar. Ele incomoda porque não conseguimos afastá-lo e, antes mesmo de qualquer possibilidade de defesa, estamos atados até o pescoço com várias voltas de um lençol escarlate. No fim, nossa fragilidade é a principal culpada. No fim, não nos conhecemos mais porque não conseguimos acompanhar nossos limites.

    Eu não sei quando começou. Não sei se foi o cheiro, a sensação de ser percebida, a procura, a identificação no mesmo nervosismo e no medo de ser sozinho no desconhecido ou simplesmente a própria montanha russa em que estamos, porque a vista lá do alto é sempre fascinante e o pânico da descida ainda me emociona e faz eu querer mais.


    Nada disso importa de verdade, é só caos. É a poeira nos olhos por causa do vento. Vai passar.

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27 de dezembro de 2023

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Insetos

    Chove sem parar. O para-brisa daquele carro frio e duro balança em seu próprio ritmo de vai e vem que parece dançante ao mesmo tempo que também descompassado, pois treme. Em conjunto, acompanhado por pequenos rangidos, ele deixa marcas de rastros no vidro velho como se adquirisse a capacidade de uma agulha de vitrola que percorre repetidamente o mesmo destino circular, ouvindo canções do mundo todo e tirando delas a conclusão de que o ser humano, na sua enorme ignorância, olha somente para o seu próprio reflexo no espelho, apaixonando-se por si mesmo e esquecendo-se do quão pequeno é.

    Será o ser humano na verdade um pequeno inseto? E, se assim for, será ele daqueles insetos frágeis, de aparência bondosa, de leveza que refresca, com asas semitransparentes e cores que o sol reflete e agradam aos olhos do observador ou, opostamente, é o ser humano o mais repugnante de todos os seres, com longas e finas patas pegajosas, com o corpo oco coberto de crostas duras, visto facilmente correndo em direção aos bueiros dos grandes centros? E, sendo inseto, por que um único e minúsculo ser humano pensa ser razoável acreditar que contém em si próprio a expressão da maior dor possível? Por que, logo ele, observador sincero apenas de si mesmo, que faz da sua medida a medida do mundo, que só fala e só produz através de cópias dos que vieram antes dele e que na verdade só se faz bom por causa do suborno do céu, por que logo ele, teria unicamente em si a agregação de todas as emoções puras e autênticas, que invalidam quaisquer outras motivações para permanência do universo?

    No início a menina acreditou ser a única a presenciar a grande tempestade e a testemunhar toda a fúria com que o vento, sem avisar, levou para longe todo o conforto de ter uma estrada que achava segura para caminhar. A tempestade arrasou não só o caminho, mas carregou consigo diversas árvores de raízes profundas, nas quais a menina tentou, em vão, se agarrar. Por fim, restou o solo vazio e revirado, de barro vermelho, encharcado, encharcado de chuva e de lágrimas. 

    Ela, não sabendo mais por onde procurar abrigo, sujou-se ainda mais de lama, escavando com a ponta dos dedos, até sangrar. Quando não conseguiu mais andar, engatinhou e debruçou na tentativa de percorrer o chão duro. Quando os joelhos e cotovelhos não aguentaram, arrastou-se até a beira de uma roseira, a única que seus olhos marejados foram capazes de distinguir e, como se não bastasse todo o escarlate vivo que a tempestade causou, os espinhos da roseira lhe causaram ainda mais dor e foram maiores que todas as rosas. 

    Longos dias expiraram enquanto a menina esteve envolta com o barro que a tempestade deixou. Em alguns dias houve sol, o que pareceu até ser fruto de algo divino e bom, depois novamente gotas profundas marcaram grandes fissuras no solo e foi assim que, depois de tanto procurar razões, a menina achou-se a ela própria e a todos pequeníssimos e insignificantes diante de toda a existência fora de si mesma, inclusive diante de tudo o que ela supunha ser inanimado. Na verdade, sabendo agora o que não sabia antes, a menina encara sozinha a grande tempestade e entende que ela atinge a todos, pois mesmo que seja percebida de forma diferente, a tempestade é grande demais para todos os que sentem. 

    A tempestade que pareceu trazer o fim, na verdade revela devagarinho que existe mais mundo depois do fim do mundo e que todo o fim gera, como uma mãe ansiosa, um novo começo. O ser humano, por mais astuto que pense ser, no fim de tudo é apenas mais um inseto indefinido percorrendo, trêmulo de medo, o novo e verdejante caminho. 


Existem milhares de crianças com a infância violada que choram de desespero enquanto nós, insetos, amamos a nós mesmos e nos sentimos ofendidos pela dor que outro inseto nos causou. Há beleza no mundo fora de nós mesmos. Um dia, nos apaixonaremos novamente por outros pequeníssimos olhos de inseto iluminados pelo sol. Somos, no fim, uma parte insignificante do todo, que é infinitamente maior e melhor que nós mesmos um dia sonharíamos em ser.

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17 de setembro de 2023

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E eu, oceano

Com as mãos trêmulas ela escreve uma carta que espera que no fundo ninguém possa ler. É tudo tão novo, tão abrupto e ensurdecedor. As lágrimas caem como se não tivessem importância alguma, o coração acelera a cada lembrança, a cada sinal de que nada disso deveria estar ali.

É irônico que tantos livros que contam a mesma história não sejam suficientes para fazê-la entender aonde isso vai chegar, afinal nenhuma história de amor é igual. Feliz é aquele que reconhece a beleza na luz do luar, no som dos pássaros voltando pro ninho no final do dia, na brisa quente de um entardecer que antecede a chuva mansa que vem chegando de um lugar mais longe ou até no cheiro de um livro novo acompanhado de um café na mesinha de cabeceira. Feliz é aquele que realmente se dá por satisfeito com essa visão. Feliz é aquele que se contenta em sua própria solidão, em sua própria busca pelo mais íntimo de si e pela arte de esculpir a si mesmo e, cada novo ano que nasce, consegue forjar uma versão melhor daquilo que se era antes. Feliz é aquele que suporta bem a ideia de estar só.

O que faria Colombina? Ela gritaria aos sete ventos tudo o que não suporta? Ela abandonaria todas as lembranças como se fossem pétalas de uma flor que envelheceu e secou e agora caem aos poucos no chão escuro e frio? Ela também sentiria no estômago essas mesmas borboletas novas que anseiam tanto pelo risco? As borboletas estão longe de morrer e isso incomoda porque parece não haver mais espaço pra mantê-las a salvo sem expô-las a luz do dia.

É possível inquirir que, apesar de tudo, apesar de toda essa urgência ininterrupta e dolorida, Colombina agradeceria a figura de seu Arlequim. Agradeceria sim, porque existe beleza em toda essa confusão. Existe um novo sopro de vida a cada chegada que antes parecia nem existir, em cada detalhe acinzentado daquele horizonte distante que ela anseia em desbravar. Ela agradeceria porque está de volta ao oceano que carrega em si e finalmente parece ameaçar sair do porto. No fundo, sempre foi o mar que lhe manteve desperta e motivada. Ela precisa da inquietação do mar para sorrir em paz.

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10 de agosto de 2020

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Pequeno texto sobre o "encontrar-se"

Lá fora eu vejo pessoas seguindo o seu caminho, encontrando seus pares, procurando uma nova fantasia para ocuparem a mente em seus poderosos aparelhos celulares. As tardes seguem vazias no centro da cidade, sem brilho, sem sorrisos e sem aquelas conversas sinceras que expõem a imensidão existente dentro de cada um. 
As pessoas fingem estarem sozinhas em todos os ambientes, mesmo rodeadas de pessoas. Isso acontece porque assim torna-se fácil passar por cima do medo da comparação, da estigmatização, da vergonha da própria subestimação que conflitua dentro de cada um com o medo de arriscar, travando os músculos, trazendo a impossibilidade de se ir longe, de engatinhar, de simplesmente admitir que toda decisão acarreta um começo. As pessoas tem medo de serem pequenas demais para esse mundo que parece tão grande, mas que pode ser extremamente menor e incrivelmente comum àquilo que cada um tem medo de demonstrar.
Nós seguimos distantes, mesmo sem razões para sofrer, mesmo com uma mão amiga, já cansada, estendida em nossa direção. Procuramos no céu a imensidão que não somos capazes de encontrar em nosso próximo, procuramos a força que as vezes pensamos não haver na beleza de sentir, na beleza de simplesmente prosseguir e deixar o coração bater mais forte. 
Um dia não teremos medo de nos cegarmos com o nascer do sol em nossa fronte, um dia os pássaros estarão mais perto e sentiremos a brisa suave em nossos cabelos. Um dia a utopia tornar-se-á realidade e sentiremos o carinho que estamos, a cada novo amanhecer, preparando a nós mesmos. Será como um agradecimento pelo prosseguimento, pela coragem, insistência e, acima de tudo, pela certeza de amar cada milímetro do que se é. 

Não desista de se encontrar. 

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28 de outubro de 2018

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Resiliência

Continue. Continue com todas as dores e mágoas e apertos bem fortes no peito. Continue apesar da vontade de sair correndo, de pular, de enfim voltar antes mesmo de ir embora. Continue enquanto a chuva indecisa ainda não vem. Continue apesar dos ventos fortes. Continue, mesmo sentindo o peso do esquecimento obrigatório nas costas. 
Continue mesmo com o medo de não saber em que ponto se deve voltar para recomeçar. Continue a partir da linha torta, não faz mal. Continue mesmo que não houver ninguém para lhe abraçar e lhe erguer se você cair. Continue mesmo com as mãos fracas e os olhos embaçados.
Continue mesmo querendo cantar enquanto lhe dizem que a sua voz não é boa. Continue enquanto você desenha traços errados de um corpo que na sua imaginação é perfeito. Continue caso o seu cabelo voe e permaneça bagunçado. Mude o cabelo ainda quando lhe disserem que ficará feio. Continue quando o esmalte preto estiver descascando nas unhas, isso significa que você não tem medo de se desajeitar enquanto se agarra ao mundo. Continue quando a estrada for íngreme demais para subir e seus joelhos parecerem não suportar. Continue quando a sua condição não estiver no padrão reconhecido socialmente. Continue quando as roupas naquela loja dos sonhos não couberem mais em você.
Continue quando a respiração estiver fraca, quando mais uma lágrima cair.
Continue e você montará o quebra cabeças de si mesmo, de queixo erguido.
E, continue, mesmo que você não faça ideia de como será o final da jornada.
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5 de setembro de 2018

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Partigiano


Os pássaros voam dentro de uma redoma de vidro sem saber que estão dentro dela. Eles batem asas ao voo livre, voam em direção ao céu, crendo que são livres. Pobres animais, bateram o corpo no vidro que os cerca, tontearam e, por fim, foram jogados em queda livre na direção do chão.
Um peixe tenta escalar um árvore, um macaco pensa que pode e deve mergulhar. As flores tentam se manter firmes mesmo no outono, os girassóis deixam de acompanhar o sol, na expectativa de agradarem a formosa noite.

A menina caminha, sem saber em qual direção. O bosque está fechado, as luzes apagadas. Onde está a luz dos seus olhos? O que levou aquele brilho embora? O mundo as vezes parece que mudou de cor. 
O tempo continua nublado, como na grande maioria das vezes, porém não há mais aquele vento morno, anunciando tempestades, ainda que exista, em raras situações, uma garoa fraca. A menina continua o seu caminho, indo e voltando de lugares, observando os carros, as crianças, os animais de estimação. De vez em quando, os carros parecem não comportarem pessoas dentro dele, parecem apenas mais um objeto, mais um item descartável. As crianças, quanto mais menores, mais salvas parecem: são inocentes, brincam, andam de mãos dadas com o seu guardião, não reconhecem a preocupação de aparecerem, interagirem e serem notadas no mundo que as cerca e não entendem e dessa forma também não participam, da fluidez com que as coisas são criadas, desmanchadas e recriadas novamente no ambiente onde estão. 
A menina pretende nunca desmoronar, nunca deixar de acreditar em um novo amanhã, nunca deixar de tentar novamente, por mais que se sinta, frequentemente, dentro de um aquário, nadando ano após ano no mesmo local enquanto busca por alguma novidade, o que faz com que perca, por muitas vezes, a sua força.
No fundo, ela sabe que tudo sempre passa e o mais importante é permanecer de mãos dadas com o seu heroi, que a protege dela mesma e tem paciência suficiente para esperar por um novo amanhã.

Será ela, ao lado dele e de mãos dadas, a resistência ao mundo que lhe arranca o brilho dos olhos. 
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18 de julho de 2018

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Aquele velho navio

Naquela manhã a chuva era fraca como essas manhãs de agora, o vento não era desses mornos, que antecedem tempestades, mas soprava em boas direções para quem ousasse navegar em um grande navio. Neste navio, a menina embarcou. 
De vez em quando as noites foram estreladas, cheias de brilho e novidade, com longas conversas e boas bebidas para a menina e o seu acompanhante, o general. Entretanto, algumas outras noites não puderam alegrar a todos, tendo lá as suas tempestades, que as vezes realmente faziam os marujos a bordo tremerem, mas em outras, as tempestades criadas pela própria menina, cabiam em um copo d’água e não assustavam ninguém além dela mesma.
Alguns dos momentos da vida da menina, ao lado de seu acompanhante naquele velho navio, foram os mais felizes que ela já viveu e mesmo que uma onda gigante os engolisse para dentro do mar e simplesmente levasse tudo embora para sempre, ela saberia que teria valido a pena. 
A bordo do navio, menina também pôde aprender que viagens longas, ainda mais realizadas a dois, merecem o máximo cuidado e o máximo de companheirismo e confiança, pois sozinhos somos incapazes de manter o navio inteiro, de segurar o leme e levantar as velas. Sozinho, aquele velho navio não se move e cada segundo sem o acompanhante é uma pausa no meio do mar, dentro de uma tempestade, sem bússola, mapa ou luz das estrelas e, assim, tudo deixaria de fazer sentido. 

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20 de março de 2018

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Cor de rosa

Algumas vezes ela imaginou que precisava ir muito longe pra encontrar o seu caminho, porém a menina se enganou. As vezes, tudo o que queremos é aquela rosa do nosso jardim que é igual a todas as outras rosas, porém é a nossa rosa querida e cuidada. 
O dia amanheceu tão calmo naquela manhã. O reflexo do fraco nascer do sol entrava pela janela do seu quarto e acabava com aquele breu. Quando o dia amanheceu, nada mais parecia estar tão ruim quanto na noite anterior. Tudo acaba, e as vezes acaba bem. 
A menina se arrumou e saiu. Será que já é tão tarde assim para que ela possa pular nas poças d'água, como uma criança alegre em uma manhã de outono? As vezes ela pensava ser tão grande em um mundo tão pequeno, contudo esse foi um dos seus piores erros: ela é que era tão pequena para uma terra tão grande, onde as outras pessoas também se achavam tão gigantes e faziam das suas vidas moeda de troca. Será que vale a pena? 
A menina não enxerga mais com os olhos banhados de orgulho e pretensão. Nada vale a pena se no fim, não tiver realmente um fim. Como assim? Acontece que a menina entendeu, enquanto pensava se podia ou não pular nas poças d´água, que o essencial, o verdadeiro, o nobre, aquilo que realmente importa, é invisível aos nossos olhos. No fim da sua reflexão, ela pulou na água, e então recebeu em troca algo invisível aos olhos, mas que era o seu desejo mais profundo: A pequena e, muitas vezes medrosa menina, sentiu-se feliz em enxergar a alegria naquele pequeno gesto e, quem sabe, sentir uma espécie de liberdade em enxergar com o coração. 
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14 de fevereiro de 2018

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Uma gota no oceano

A menina está tentando se acalmar, mas a paisagem passa muito rapidamente por seus olhos enquanto o carro corre. Ela entendeu que não precisa começar novamente, e muito menos precisa de mais tempo para perceber onde está. Isso depende somente dela, e talvez tenha sido sempre assim.
O vento sopra através da janela, o clima quente não a incomoda mais, uma vez que está em casa agora. Todas as árvores balançando, todos andando, todos impetuosos por vencer o mundo, mesmo que se precise ir contra o universo inteiro, mesmo que se perca um amigo nessa jornada. Parece tão difícil ir mais devagar. Parece tão difícil acreditar que existe um momento certo para todas as coisas e que não se deve adiantar os desprazeres e as dores da vida enquanto os males nem mesmo ocorreram.  
É tão difícil fechar os nossos olhos perante um mundo de caos. É tão difícil tentar ir mais devagar, porque as vezes parece que as ondas do mar irão nos levar para muito longe daqui e nunca mais nos encontraremos. 
Não vale a pena se for pra não ser verdadeiro. Não vale a pena se não for pra acreditar num amanhã mais calmo. Não vale a pena se nunca mais pudermos nos deitar naquele gramado e somente olharmos o céu. Não vale a pena se tivermos que sempre perder amigos e se sentir no dever de esquecer as boas lembranças. Não vale a pena se não soubermos o que é verdadeiro e o que não é. Nada fará sentido se um dia decidirmos nunca mais nos ver. O céu perderá o seu azul e a chuva não cessará nem mesmo ao fecharmos nossos olhos. Você se tornaria mais uma gota no oceano, mas ainda assim seria a gota que eu conheci. Mesmo de longe eu poderia saber que seria você e tudo o mais não importaria novamente.
A menina acredita que possamos ir mais devagar. Não precisamos começar novamente, não precisamos voltar ao início, não precisamos acabar. 
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31 de agosto de 2016

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Tempo

Não se pode mais parar no meio da estrada. Não se pode mais dar um abraço bem apertado e se mergulhar em lágrimas. Não se pode mais ouvir aquela velha música acompanhada com um café. Não se pode mais deitar na cama, enrolar-se e simplesmente dormir. Não se pode mais olhar no fundo daqueles olhos e o ouvir daquela boca as palavras mais lindas do mundo. Não se pode mais ouvir dizer que o mundo anda muito rápido e que tudo está virado em um caos. Não se pode mais dar as mãos e não querer nunca mais soltar. Não se pode conversar. Ouvir. Dizer que sentiu falta de alguém. Não se pode brincar, nem mais escrever. E hoje, logo pela manhã, descobri que já não se pode olhar para o céu e, em meio às nuvens, admirar o sol nascer. Nem ao menos fitar o que antes chamaríamos de infinito, posto que agora é somente um dia comum.
           Nós queremos o mundo de volta e queremos o mesmo vento que ventava naqueles fins de tarde na primavera passada. Quero muito, e você sabe, os mesmos pingos da chuva de setembro passado, onde outrora eu te conheci. Quero tanto e se o mundo todo parasse pra ver, veria que tudo o que eu quero no fim se resume em ficar com você.
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19 de março de 2016

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Que o amanhã pra sempre viva

O inverno ainda não chegou, contudo muitas folhas já caíram e muitos galhos já secaram e floresceram novamente. Nos últimos meses, a menina chutou as folhas de outono que caíam pelas ruas algumas dezenas de vezes a mais do que o número de chutes que deu durante o tempo que vivera da sua vida até ali. O tempo ainda não passou, mas é como se tivesse subitamente voado e lecionado à menina coisas que vão desde a pré história até o fim dos tempos e, ao passo atual, ela sabe que não chegou a nenhuma espécie de conclusão apropriada.
Hoje à tarde, a pequena menina decidiu correr novamente. Sim, ela sentiu falta dos pássaros que antes mal conseguia avistar, parecendo mais como borrões em uma tela de pintura colorida de azul. Ela sentiu falta dos pulmões cheios de ar e das vezes em que admirava a astúcia dos cachorros e gatos que perambulavam na avenida em busca de abrigo e proteção. Pode-se dizer ainda que ela tenha até sentido falta de estar verdadeiramente sozinha enquanto se sentia dessa forma, pois o pior estado de solidão é aquele em que estamos acompanhados ao mesmo tempo em que estamos sós e, inquestionavelmente, por vezes isso ainda persiste dentro dela. Nesta tarde, a menina tentou imaginar onde se abrigam todos aqueles pássaros quando a noite vem e tentou imaginar qual fora o local de nascimento dos animais de estimação abandonados. Mesmo sabendo da irracionalidade destes seres, ela se colocou no lugar deles e deu-os sentimentos imaginários. Por alguns segundos, a menina sentiu o que, para ela, os animais desamparados sentiriam: as pessoas veem, olham, passam e, por vezes, até alimentam, mas na realidade quase ninguém se importa com o bem estar, aliás, as pessoas são assim, e elas é que são racionais e corretas, não é mesmo?!
Não, a menina não chegou a uma conclusão sobre tudo o que aprendeu e ainda vem aprendendo, mas elegeu como primeira certeza o fato de que ninguém precisa se contentar com tentativas. Vá e faça e espere que façam também.

Chegado o final do dia, a menina desenhou um coração no vidro embaçado do banheiro, desejando que o coração dela nunca parasse de acreditar no amanhã.
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14 de fevereiro de 2016

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Cores

Aquele foi somente mais um dia qualquer, entretanto, no final dele, o céu resolveu mostrar as suas cores. Assim como ocorre quando as coisas boas surgem na vida de alguém, nem todos perceberam aquele momento único e sublime. Outras pessoas, porém, perderam a chance de ficar em silêncio observando e fotografaram as nuvens cor de rosa. Sim, uma fotografia será guardada intacta por décadas, mas por muitas vezes o presente deve ser mantido e cultivado no instante em que ele é vivenciado.
A menina passou uma vida buscando novas etapas e novos sonhos para serem sonhados. Aliás, ela fez mais: Passou o seu presente planejando o futuro e imaginando as novas pessoas do seu futuro, esquecendo-se, assim, de que haviam amigos ao seu lado e, incontestavelmente, esqueceu de olhar para as borboletas que bajulavam as flores vivas e esqueceu da imensidão azul acima dela. No fim, por sorte, ela acordou.
Acontece, meus caros, que queremos tudo e queremos tudo de todos. Acontece ainda, que quereríamos mais assim que conquistássemos tudo. Uma hora na vida a gente precisa aprender que o nosso presente mostra, em frente aos nossos olhos, o futuro que buscamos enquanto ignoramos o dia a dia. Será mesmo que já não somos ganhadores há muito tempo e ainda não percebemos?
No fim das contas, a menina deixou de ser covarde e assumiu as suas palavras e o seu presente como sendo o sonho tão esperado daquele futuro antigo que era igualmente tão incerto. A vida é valiosa, e aqueles olhos olhando no fundo dos olhos dela são ainda mais. Igualmente, ela não pôde, de forma alguma, se opor ao que cativou e ao que levou ela a ser cativada também. Cada segundo deve ser aproveitado, cada milímetro de vida deve ser respeitado, cada segundo de felicidade deve ser desfrutado e desenvolvido. E essas coisas devem ser assim simplesmente porque elas existem e, especialmente, porque assim como as cores do céu em um final de dia, elas são absurdamente raras, pois amores recíprocos são raros do mesmo modo.

Poucos sabem o quanto isso é incrível.
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8 de fevereiro de 2016

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Estrelas

Imagem para a postagem "Estrelas" no blog Amor e Oxigênio

Talvez o céu não tenha as cores mais belas como foi outrora, mas mesmo assim já é passada a hora de acordar. A menina despertou e saiu a passos largos, mesmo percebendo que não estava atrasada. Sim, ela foi buscar a cor do seu mundo. Ela foi acolher aquele sorriso e foi perceber o convite ao silêncio em meio a um abraço. O coração bateu forte. O coração ardeu.
Muito provavelmente ela tenha esperado uma vida inteira por isso e sem dúvida alguma estava certa do que queria. Não foram mil anos, mas foi tudo aquilo o que ela tinha, e a pequena menina não pode deixar algo assim escorrer por suas mãos, mantidas, assim como a sua mente, atônitas o tempo todo, somente vendo tudo passar porque aquela era a lei maior de sua vida, há alguns meses atrás. A verdade é que tudo passa, é claro, porém somente se deixarmos passar. 
Vamos olhar para cima. Talvez a resposta esteja em olhar para as estrelas. O que será que as estrelas mais velhas carregam para chegar onde chegaram e para estar tão longe quanto estão? O que será que aqueles olhos carregam agora? A verdade é que a menina encontrou a sua estrela e foi ela quem lhe ensinou que devemos sempre olhar para cima. Por fim, ela entendeu que a diferença é um aprendizado e que todos precisam navegar um pouco para encontrar o seu porto seguro.
E nos seus olhos eu aprendi que as estrelas também queimam e algumas até caem. Ainda assim, sempre estaremos olhando para cima, porque a gente sabe que vale a pena.

Não quero ser alguém que vai embora facilmente. Estou aqui para ficar e fazer a diferença que eu puder fazer. Jamais ousarei olhar para baixo novamente, eu te prometo.

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5 de fevereiro de 2016

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Noite

Imagem para a postagem "Noite" no blog Amor e Oxigênio

Porque nossos corações tem um ritmo parecido. Porque o vento morno anunciando a tempestade me lembra do calor das suas mãos. Porque a chuva acaricia a pele. Porque o vento anuncia a chegada do frio e o frio me faz sentir vontade de estar ainda mais perto.

A menina perdeu o sono e desistiu de tentar encontrá-lo novamente. As vezes acontece algo e, então, acabamos por nos situarmos parados, em um estado de quase meditação. Isolação interna, talvez. Os pensamentos voam e se perdem em questões de segundos. É, as vezes devemos ficar quietos e encarar o mundo com os olhos de um adulto e deixar a criança brincar em seu quarto. As vezes devemos tomar conta de nossas palavras que vagam soltas por aí, já que provavelmente alguém irá encontrá-las e nem sempre elas serão serenas como os olhos de uma criança sonolenta.
Talvez os sentimentos dos sonhos sejam diferentes dos sentimentos vividos. Talvez os sentimentos vividos nem sempre são aqueles que falamos de um modo desconexo e por impulso. Talvez o medo se mostre maior que todo o resto e, ainda que não devesse, talvez tenhamos muito por dizer e a voz acabe por falhar.
E, no fim, o dia acaba e poderemos rir novamente. Poderemos andar na beira do mar e admirar a imensidão. E eu, enfim, poderei dizer que os teus olhos são o infinito mais bonito que eu já vi.
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26 de janeiro de 2016

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Essas grandes alturas


Imagem para a postagem "Essas grandes alturas" do blog Amor e Oxigênio
E aquele brilho está de volta, agora nós conseguimos sentir isso. O silêncio ecoa nos nossos corações e a cada batida a dor se vai. Estamos de volta, mantenha a sua mão com a minha, rodaremos mais uma volta com o mundo. Sente ao meu lado, veja o trem passar, sinta o sopro dele nos seus cabelos. Ah, sinta cada gota da chuva que chegou para mostrar as possibilidades que ganhamos ao refazer os bons momentos.
Esteja comigo por quanto tempo achar que pode, ainda que eu insista em não partir jamais, ainda que eu continue entregue ao seu abraço. Ouça as cordas desafinadas daquele violão velho e empoeirado. Teremos décadas para tomar um café e rir dos trocadilhos da vida. Os violinos tocarão aquela minha música favorita e nós entraremos no ritmo deles.
Num outro dia qualquer, nós observaremos o nascer do sol e leremos um livro juntos. Ache meus olhos e olhe no fundo deles, estarei aqui por um século. Estarei por um século ao seu lado. Faça um pedido, plante uma árvore e escreva os nossos nomes no tronco dela. Sinta a brisa suave daquela manhã tão cinza que já não incomoda mais.
 É muito importante, agora. A forma como eu não quero perder nada, o desejo que eu tenho de nunca acordar, o meu comportamento, por vezes, pouco sutil, a maneira como eu espero o "para sempre", a necessidade de um milhão de anos, a segurança daquele abraço, a minha certeza em confiar. É imprescindível, é maior que todas as ondas e todos os focos de luz que dariam esperança no final do breu. Eu preciso aprender a expressar o quanto isso faz diferença em todo o resto. O quanto eu sinto que estou em um só caminho e o quanto quero que ele seja seguro.
Jogue um jogo comigo, me lembre de como o céu é azul. Me encontre no final da rua, apenas corra comigo e me deixe fazer da vida um sonho real. E no final, lembre-se do início. Aguardei aquele brilho da mesma forma como aguardamos ansiosos pelo momento em que veremos as estrelas cadentes no céu. Aguardei incessantemente e sabia que, quando encontrasse, seria como encontrar um tesouro escondido.

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17 de janeiro de 2016

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Horizonte

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Naquele dia estava chovendo e ela não queria sair, porém já havia se ausentado na manhã anterior. Naquele dia as poças d'água refletiam a os galhos das árvores recém apresentadas à primavera. Naquele dia os guarda chuvas pareciam dançar. Naquele dia as pessoas dançavam e eles, que não dançavam, entraram na brincadeira também. E toda a brincadeira, até onde se ouve falar, tem um profundo apego nas nossas verdades.
As vezes uma manhã chuvosa não significa um dia triste. Aliás, um caminho escuro, com tropeços e derrotas é vivenciado por todos nós, pelo menos uma vez na vida e sempre de maneiras diferentes porque, claro, somos diferentes. Muitas vezes, numa manhã chuvosa, tomamos o melhor café do mundo, que pode ser o café da cafeteria mais famosa da região e também pode ser aquele que você ou alguém que você gosta preparou. Muitas vezes, numa manhã chuvosa, nos unimos com vários outros passantes desconhecidos entre os beirais da cidade. As vezes um desses passantes pode deixar de ser somente mais um desconhecido.
 E todo mundo deve ter o direito de tentar algo novo. Todos devem, ao menos uma vez, se sujeitar a algo inesperado, visto que esse inesperado pode ser bom. E as pessoas devem se harmonizar com aquelas que lhes fazem bem e devem, por óbvio, cultivar o que, igualmente, lhes trazer a paz.
Quem sabe, é assim que acontece o início dos melhores finais felizes. Quem sabe, assim virão as nossas grandes memórias, que um dia se tornarão infinitas.

Todas as pessoas solitárias
A que lugar todas elas pertencem?
(Beatles)
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14 de janeiro de 2016

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Valeu

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E no fim o vento leva. Leva devagarinho, como as folhas de outono são arrastadas pela calçada, como as pessoas se esquecem das melhores memórias. E não é tão diferente de tentar retomar o que éramos antes.
Acontece que não estamos preparados para reconhecer o quão bom ou ruim algo pode ser. Não estamos sempre prontos para um novo dia repleto de novidades e atenção redobrada aos mais novos conhecidos. Nós nunca saberemos onde se inicia o afeto, a amizade, o amor. Nós nunca saberemos onde isso acaba ou quando e exatamente por quais razões acaba.
Nós não estaremos prontos nunca, mas os novos ventos sempre irão soprar. Não teremos, de fato, entendimento sobre todas as coisas e sobre os motivos de estarmos onde estamos, mas é certo que caminhamos para algum lugar além do fim incessante e incurável. Aliás, precisamos da certeza de quem somos quando estamos sem rédeas e sem leis. Precisamos da confiança nos nossos instintos e na veracidade daquilo que achamos ser e ter nos tornado durante tanto tempo.
E o sol brilha de novo no fundo dos olhos dela. Brilha como se brilhassem pela primeira vez e reflete o silêncio mais puro e genuíno que ela pôde encontrar. É, não se tem certeza, mas quem nos obriga a ter? A calma nos guia agora, e ela é melhor que o desespero, a pena e a comoção. Calma. Viveremos tudo o que quisermos viver, mas por razões que não se explicam de antemão, a serenidade e o equilíbrio nos darão a dose certa para cada cruzar de olhares. Existe uma árvore gigante, mas ela recém brotou.
Estou convicta dos meus medos, mas não do afeto que ainda restou. Tenho consciência de que sinto falta da imensidão de todo aquele apreço de outrora, mas não espero um retorno. Estou convencida da minha incorruptível ânsia por muito mais, em caminhos novos. Vou fechar um novo ciclo, e sei que no fim ficarei em paz. Não podemos nos esquecer que sim, tudo vale a pena. Porque todo o coração é burro, mas o meu é mais.

 E a chuva parou.
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13 de janeiro de 2016

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Zero

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E a menina voltou a aparecer. Voltou porque algo a chamou aqui. 
O dia amanheceu calmo, a rede balançava, os pássaros voavam de seus ninhos em busca de comida e, lentamente, a pequena menina despertava. Ela abriu os olhos, estes, por sua vez, claros como a luz que vinha da janela. O vento a chamava para longe. Ela se aprontou e saiu.
As pessoas, naquela imensidão espantosa, não estavam dispostas a conversar e nem mesmo a cumprimentar a menina e os outros passantes. A verdade é que todos viviam em mundo privado e egoísta onde se achavam portadores da melhor personalidade e do melhor talento além de, claro, serem o próprio sol desse mundo imaginário. A pequena continuou a andar, insistindo a atravessar vielas e a pular por cima das poças enlameadas daquele chão irregular.
Sem perceber, ela acabou perfurando a bolha na qual vivia e, inimaginavelmente, a felicidade se estampou em seu olhar. Desde quando se sentia a vontade para cruzar a avenida de cabeça erguida? Desde quando ela começou a ter essa ânsia por espalhar vozes, e gostos, e sentimentos por aí? Sim, a menina já não era a mesma e não sabia explicar quando foi que os novos ares chegaram.
Finalmente a pequena observou que não haviam mais lágrimas para serem derramadas, pois já não havia motivo para tanto. Olhando para frente e acabando com a irrealidade dos fatos, ela pôde entender que não se pode controlar uma vida inteira e nem mesmo passar panos quentes nas palavras que desejamos nunca termos pronunciado. Ela descobriu que ainda tinha um coração e não precisou olhar nos olhos de ninguém para constatar esse feito. Descobriu também o quão nobre um sentimento pode ser. Entendeu que não existem coisas que tramem a favor ou contra o que sentimos. Tudo o que sentimos nos domina e lentamente passa a existir, com a mesma eficácia de um pássaro que constrói seu ninho para se abrigar do inverno próximo.
Os sentimentos pulsam e simplesmente não precisamos de um líder, de influência, de talento. Tudo o que precisamos é de coragem para admitir que temos conosco algo de tamanha intensidade.
O tempo que algo assim dura? Uma vida. Uma vida bem vivida.
Zero sim. Começamos outra vez, assim como um dia novo começa a cada amanhecer.
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28 de novembro de 2015

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Aventurar

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A vida é curta pra ver o tempo passar. A vida é curta para nós nos acordarmos de mãos dadas. A vida é curta para dar um passo pra trás e, provavelmente, essas coisas não tem explicação nenhuma e, muito menos, a exigem.
Vamos pensar: Essas coisas acontecem porque a gente não sabe mais rir dos nossos pequenos escândalos, amar as nossas próprias canções e sentir falta do que ficou pra trás. Meu bem, como será sem o vento e sem o clarão da lua? Como vai ser quando não nos encontrarmos mais, e quando nos abandonarmos, e quando nos esquecermos? Como pode alguém prever, não é mesmo? Nós podemos ouvir o vento passar, mas não podemos calcular, de poucos em poucos, o que ele levou daquilo que éramos. Meu bem, escrever pode ser querer esquecer?
Um século, um mês.. Veremos, depois de muito tempo, fotos nossas e das nossas vidas novas. Eu penso que, quando tais coisas ocorrerem, não nos reconheceremos mais, já que não podemos parar para o tempo. Talvez nos seus olhos ainda exista a tempestade da qual eu quero me encharcar, talvez nos seus olhos das novas fotos ainda existam as coisas que os sonhos não nos deixam apagar. Isso tudo porque a gente tentou e todos viram como a gente tentou. Renasceríamos em novas fotos repassadas por amigos em comum e, quem sabe, lembraríamos do que fomos, ou então torceríamos para que, no mínimo um dos dois, sorrisse em paz.
Enfim, dessas coisas somente a gente que sabe e, se um dia quisermos duvidar, ninguém vai dizer que já é tarde demais. Essas coisas não tem fim e, certamente, encontraríamos um jeito de ir aonde o vento vai.


Do nosso amor, a gente é que sabe. 
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